Quando não se podem reconhecer os factos, não se pode travar o impulso insano para a guerra nuclear
Alguns leitores perguntaram porque é que a Rússia considera a adesão da Finlândia à NATO como uma provocação. Pela mesma razão porque a adesão da Ucrânia é uma provocação: por causa das bases de mísseis americanos na fronteira com a Rússia. Os EUA actualmente não possuem mísseis hipersónicos, mas mais cedo ou mais tarde irão possuí-los. Tais mísseis nas fronteiras da Rússia poderiam chegar a Moscovo em 3 ou 4 minutos, o que constitui claramente uma ameaça existencial. Juntamente com a Finlândia, Washington quer as bases na Suécia e nos Estados Bálticos, além das bases de mísseis que já tem na Polónia e na Roménia.
Se bem que Washington pretenda a adesão da Finlândia à NATO como uma nova provocação, não devemos esquecer duas outras provocações existentes que o Kremlin declarou inaceitáveis: as bases de mísseis já instaladas na Polónia e na Roménia. Não faz sentido a Rússia impedir preventivamente bases de mísseis na Ucrânia e na Finlândia enquanto permite a permanência das bases existentes na Polónia e na Roménia. A intervenção russa contra estas duas bases são provavelmente as próximas acções de autodefesa que os russos irão empreender.
Os media prostituídos do Ocidente têm feito o melhor que podem para criar uma indignação mundial contra a Rússia. Pessoas levadas à indignação não percebem a irresponsabilidade dos governos ocidentais ao ameaçar gratuitamente a Rússia com bases de mísseis nas suas fronteiras. Ao invés de perceberem correctamente a colocação das bases como uma agressão contra a Rússia, as pessoas doutrinadas encaram a resposta da Rússia a ameaças existenciais como uma agressão.
Durante anos enfatizei que estas provocações à Rússia acabarão por cruzar uma linha vermelha e resultar numa guerra nuclear. Há muito que critico o Kremlin por não ter travado tais provocações, pondo em acção medidas enérgicas. A Rússia teve essa oportunidade na Ucrânia, mas o Kremlin escolheu um curso de acção que falhou em dar a necessária impressão de que países que acomodam a agressão dos EUA contra a Rússia sofrerão experiência devastadora. É menos arriscado fazer esta manifestação num país não-NATO do que num país da NATO. Além disso, o Kremlin esperou demasiado tempo antes de intervir na Ucrânia, dando assim aos EUA oito anos para armar e treinar forças ucranianas. Por andar com luvas de pelica (pussy-footing) na Ucrânia, a Rússia será novamente confrontada com o mesmo problema na Finlândia ou alhures, para além das duas bases já existentes em dois membros da NATO junto à fronteira da Rússia. Não há dúvida de que os EUA/NATO estabeleceram um caminho que conduz directamente à guerra nuclear. Como nada que esteja fora da narrativa pode ser publicado ou discutido no mundo ocidental, nada pode ser feito para travar este insano impulso para a guerra nuclear. Não é sequer possível discutir esta ameaça nos círculos ocidentais de política externa. Mais uma vez, o mundo está a caminhar como sonâmbulo para a guerra, mas esta guerra será nuclear e a guerra final.
Tudo o que o Kremlin conseguiu com a sua auto-contenção e confiança na negociação com o Ocidente foi intensificar o ritmo e o nível das provocações. O Stoltenberg da NATO está a cortejar tanto a Finlândia como a Suécia para se juntarem à organização, prometendo-lhes que a adesão seria acelerada e provavelmente outros benefícios, incluindo sacos cheios de dinheiro. Este artigo deveria acordar as pessoas para a situação real, que está a expandir o conflito:
www.zerohedge.com/geopolitical/finland-sweden-nato-applications-could-be-imminent-after-stoltenberg-suggests-fast
Em dado momento, considerações existenciais forçarão a Rússia a tomar a iniciativa e a cessar de responder à agenda de Washington.
Paul Craig Roberts (Atlanta, 3 de abril de 1939) é um economista americano. Formado pelo Instituto de Tecnologia da Geórgia, Universidade da Califórnia em Berkeley e Universidade de Oxford, onde ele era membro do Merton College, possui um PhD pela Universidade da Virgínia.De 1975 a 1978, Roberts está empregado no Congresso. Foi durante este período que ele elaborou a Lei Kemp-Roth, um ato de redução de impostos. No início dos anos 80, era o Subsecretário do Tesouro na Administração Ronald Reagan, e se fez conhecido como um dos fundadores da Reaganomics, nomeadamente pela sua contribuição para a reforma da Lei Tributária de 1981.
Artigo original publicado em paulcraigroberts.com a 8 abril, 2022.
Fonte: Resistir.info
Pimenta Press 